Desenhar soluções que, por omissão, considerem a segurança da informação e a privacidade dos dados como base para a sua conceção tem sido hoje tema de debate na sociedade moderna.

Num sec. XXI cada vez mais digital e exigente no que concerne à procura e rápida obtenção de conhecimento, maioritariamente em modo “fast food”, originando um fenómeno em crescente, o consumo e a utilização essencialmente descartável de um “know-how” específico tem como consequência imediata a falsa perceção da retenção do suposto conhecimento. É, pois, num contexto onde os limites da razoabilidade entre o contacto com os dados e a obtenção da sabedoria no ciberespaço sobre determinada matéria transforma-o numa espécie de “terra prometida” cujo acesso fácil, aliado à necessidade extrema da sua utilização, muito fruto de um isolamento social cada vez mais notório, torna-o hoje no ambiente por defeito da nossa sociedade, seja ele ocupado em cenários académicos, profissionais, ou em puro lazer. Com base nesta necessidade, o ciberespaço tornou-se hoje o “lobby” de entrada da sociedade moderna, tornando-se um alvo apetecível para os agentes promotores da criminalidade, promovendo uma das maiores preocupações da nossa sociedade, a cibersegurança, a qual muito dificilmente irá acompanhar a evolução da sociedade digital, pois a mesma continuará a evoluir a um ritmo muito acima daquele humanamente desejável para a consolidação do conhecimento necessário capaz de combater as crescentes ameaças.

 

Nova abordagem em duas dimensões

É perante este cenário que invocamos a cibersegurança como sendo o grande tema das sociedades modernas, e sobre o qual deverá existir um maior foco nos próximos anos.  Prova disso são as recentes declarações do Sr. Secretário de Estado André de Aragão de Azevedo que, invocando o “Plano de Ação para a Transição Digital”, reforçou a cibersegurança, tal com a privacidade, a acessibilidade e a sustentabilidade, como sendo estes os quatro pilares para a adequada adoção ao mundo digital.  Efetivamente não podemos esquecer as diferenças que este contexto digital trouxe consigo. Devemos, pois, reunir todos os esforços necessários, tornando-se para isso essencial capacitar o maior número de recursos possíveis, o que a meu ver é um dos grandes erros estratégicos.

Tornou-se “trendy” nos nossos dias afirmar que a capacitação e a formação são a base para a correta adoção de uma sociedade devidamente preparada para lidar com o contexto do ciberespaço, capaz de consciencializar o próximo, numa primeira fase em modo “passa palavra” e, numa segunda fase, em modo inato por intermédio da interiorização de comportamentos “higiénicos” em contexto digital. No entanto, o que não é dito é que efetivamente esse caminho não é suficiente. Aliás, poderá inclusivamente ser contraproducente ao acentuar ainda mais a clivagem. Deverá ser assumido por todos os principais stakeholders que o sucesso passa pela definição de uma abordagem bastante acima da operação do dia a dia, muito acima da vertente tática e que anteceda o desenho da estratégia presente de uma qualquer solução. A nova abordagem deverá ser feita em paralelo e em duas dimensões. Por um lado, top-down, enquanto responsabilidade basilar da gestão de topo, devendo existir esforços nos conselhos de administração para a incorporação da adoção da Cibersegurança na Gestão do Conhecimento, enquanto fase embrionária muito antes do desenho dos produtos e serviços e, paralelamente, numa dimensão “down-top” diretamente nos bancos das escolas junto daqueles que começam agora a palrar a língua de Camões porque, ao contrário do dizer popular, neste caso não é no meio que está a virtude, mas sim nos extremos, os quais juntos, e por intermédio de esforços concertados, poderão vir a trazer resultados muito interessantes.

Em mês Europeu de cibersegurança devemos definitivamente assumir a importância da gestão do conhecimento no ciberespaço de uma forma clara, definindo estratégias que, por um lado, permitam a capacitação a duas dimensões e que, por outro, evangelizem a procura de conhecimento como uma prática de consumo em formato à lá carte.